quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Nova estratégia brasileira para a China?

11/01/2011 - Sandra Polônia Rios

Publicação: O Estado de S. Paulo

"Em sua viagem à China, prevista para acontecer nos próximos meses, a presidente Dilma Rousseff levará a Pequim sua preocupação com os efeitos da guerra cambial sobre as contas externas e os danos causados pela concorrência chinesa na indústria". A informação teria sido dada pelo novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no dia 28 de novembro de 2010, o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que "precisamos repensar nossa relação com a China". A percepção de que o Brasil carece de uma estratégia para lidar com a China tem sido recorrente nos debates sobre política externa e sobre inserção internacional no País.

Em 2010, a China absorveu 15,2% do total das exportações brasileiras, consolidando-se como principal mercado de destino para as vendas externas do País. A balança comercial bilateral foi amplamente superavitária para o Brasil, tendo o saldo positivo alcançado de US$ 5,2 bilhões - com um crescimento de 21,5% em relação ao já elevado superávit bilateral registrado em 2009.

Mas prevalece no Brasil a percepção de que não aproveitamos as oportunidades que o mercado chinês oferece e não nos defendemos com suficiente vigor dos prejuízos que as importações de produtos chineses trazem para a indústria nacional. Essa visão é alimentada pela diferença entre a participação de produtos chineses no total das importações brasileiras - de 14,1% em 2010 - e a participação do Brasil nas importações chinesas - inferior a 3%.

Muitos advogam que o governo brasileiro não é suficientemente ativo na adoção de instrumentos de defesa comercial. Isso não é exatamente verdade. A participação da China no total das investigações de dumping abertas no biênio 2008/2010 é de 24% (dados até outubro), muito superior à participação do País no total das importações brasileiras. Além disso, em 2010, o País foi o segundo entre os membros da OMC com maior número de investigações iniciadas. Portanto, não se pode acusar o governo de falta de ativismo nessa área.

Mais importante é o fato de que, se a estratégia brasileira para enfrentar a competição com produtos chineses no mercado nacional estiver centrada em mecanismos de defesa comercial, estamos perdidos. Esses instrumentos servem para aumentar o custo de importação de produtos específicos, depois de cumprir complexos procedimentos.

Por outro lado, há de reconhecer que a indiscutível competitividade dos produtos chineses é turbinada por políticas industriais opacas, intensivas em subsídios fiscais e creditícios. Conta, além disso, com uma política cambial que mantém o yuan artificialmente desvalorizado e que tem sido alvo de fortes pressões dos Estados Unidos.

Para lidar com os desafios e oportunidades que a China apresenta, temos que adotar estratégias abrangentes que envolvem agendas em três níveis: doméstico, regional e multilateral. No âmbito doméstico, deveria prevalecer a tão conhecida agenda de competitividade. No âmbito regional, é desejável intensificar a agenda de integração com os países sul-americanos e com o México. Não se trata apenas de aprofundar negociações para a liberalização do comércio, mas é também fundamental investir na integração física, cuja precariedade atual acarreta custos elevados para o transporte dos produtos brasileiros para os mercados da região, dificultando a concorrência com os produtos chineses nesses mercados.

Por fim, cabe ao governo brasileiro buscar aliados na cena internacional para pressionar a China a cumprir seus compromissos perante a OMC, eliminando subsídios proibidos pelas regras multilaterais e aumentando a transparência de suas políticas. Deve também aliar-se no G-20 àqueles países que demandam a flutuação da moeda chinesa. Essa agenda interessa não apenas ao Brasil, mas a muitos dos nossos vizinhos sul-americanos.

Fonte: http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4022748151710530633

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