quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Desindustrialização: do que se trata?

10/01/2011 - Rogério César de Souza

Publicação: O Estado de S. Paulo

O termo desindustrialização voltou a ganhar espaço na discussão nacional. Entendida como perda de participação relativa da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB), a desindustrialização pode ser observada desde mesmo antes da abertura comercial do início dos anos 1990 e das políticas macroeconômicas a partir daí adotadas.

Há uma desindustrialização relativa no País, mas quais as possíveis consequências disso? Em primeiro lugar, cabe observar que esse processo não se deu de forma continua. Em diferentes contextos da história recente de nossa economia, observou-se uma retomada da participação da indústria de transformação no PIB. Isso deixa claro que a indústria nacional guardou, e provavelmente ainda guarda, características que a permitiram reerguer-se e recuperar sua capacidade de produção.

Por outro lado, deve-se observar que a indústria de transformação sempre assumiu um papel preponderante no crescimento econômico dos países hoje considerados desenvolvidos e continua desempenhando esse papel nos países emergentes. De fato, constata-se que, em países cuja média das taxas de crescimento anual foi igual ou superior a 5,0% entre 1970 e 2007, há um aumento da participação da indústria de transformação em suas estruturas produtivas. Os destaques ficam por conta das economias asiáticas, sobretudo China e Coreia do Sul.

O que se observa nos mais diferentes países do mundo é a utilização de políticas industriais voltadas para o fortalecimento de cadeias produtivas consideradas estratégicas para o crescimento econômico, ou ainda, políticas que visam dar competitividade à indústria - o seja, vantagem comparativa é algo que se adquire.

E aqui se coloca um ponto fundamental. Ainda que o termo desindustrialização tenha seus sentidos, como vimos acima, sua discussão parece estar jogando uma cortina de fumaça para o processo mais importante que a indústria de transformação está vivendo nos últimos anos: perda de competitividade. Se, por um lado, essa perda de competitividade reflete os ganhos muito modestos de produtividade da indústria nacional nas últimas décadas, bem como os custos de uma infraestrutura inadequada e de uma carga tributária sobre a produção elevada, ela também reflete, por outro lado, a forte valorização do real que se inicia já em 2003. É importante que se discuta a desindustrialização. Mas, cabe reforçar este seu aspecto negativo que se apresenta no Brasil: a já observada eliminação e o possível desmonte de elos estratégicos de diferentes cadeias de produção ameaçados pela concorrência do produto estrangeiro devido, sobretudo, ao câmbio valorizado.

Rogério César de Souza é economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Fonte: http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4022748151710530633

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