segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Bloco verde pavimenta o caminho para construções sustentáveis

Bloco verde pavimenta o caminho para construções sustentáveis
Santa Catarina produz aproximadamente 12 mil toneladas de ostras e mariscos por ano e a maior parte deles são consumidos no estado, o que implica em montes de conchas nos aterros sanitários. O de Biguaçu, por exemplo, estará lotado em 7 anos. A boa notícia é que com cada tonelada de conchas são fabricados 4 mil blocos para construção civil, suficientes para construir uma casa de 120 m2.

O aproveitamento do que antes era considerado resíduo e ia para o lixo foi viabilizado por recursos do Programa de Apoio à Pesquisa em Micro e Pequenas Empresas (Pappe). Em sua última chamada pública, o Pappe disponibilizou quase R$10 milhões às propostas selecionadas, sendo R$6.535.215,90 provenientes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc) entrou com R$1,5 milhão e o mesmo valor foi bancado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/SC).

Pouco mais de R$212 mil foram destinados ao projeto Bloco Verde, que resultou em diferentes tipos de blocos, quatro deles usados no calçamento da Avenida Rubens de Arruda Ramos (a Beira Mar de Florianópolis). "Eles absorvem menos água e são cerca de 30% mais resistentes que os blocos e pavimentos inter-travados convencionais", diz Bernadete B. Batista, idealizadora do projeto.

Apresentado na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), seu Trabalho de Conclusão de Curso em Engenheira Ambiental, deu início a uma série de experimentos para reduzir o uso do cimento e outros materiais na construção civil. Deixar de usar areia e pó de pedra na produção de blocos evita escavações desnecessárias e preserva os morros catarinenses. "Além disso, estamos dando uma solução para resíduos que são um problema para a Grande Florianópolis", acrescenta Luiz Francisco Teixeira Marcondes, um dos diretores da Blocaus Pré-Fabricados Ltda, sediada em Biguaçu.

Levar montanhas de cascas para a empresa requer parcerias, como a que foi proposta à Prefeitura Municipal de Florianópolis. "A gente já tem um convênio com a Prefeitura de São José, e os seus caminhões recolhem as conchas das áreas de maricultura do município e trazem para nossa empresa. Nossa empresa busca conchas na Fazenda Marinha Atlântico Sul, uma vez por semana", explica Bernadete. "Os maricultores ficam felizes quando o caminhão chega para pegar as conchas, porque eles não têm o que fazer com tantos resíduos. Acabam jogando-as no mar ou em terrenos baldios, o que causa problemas sociais e ambientais, como o assoreamento das praias."

Ecológico, mas nem sempre verde

Apesar do nome, também há blocos amarelos, vermelhos e de outras cores, tingidos com corantes como urucum - cujo uso foi inspirado nas técnicas de coloração dos índios Guarani de Biguaçu. Eles podem ficar aparentes, dispensando pintura e reduzindo o custo da obra. Uma casa e a estrutura da Apae em Rancho Queimado, Escola do Mar de São José foram erguidas e pavimentadas com doação de blocos da Blocaus, responsável ainda pelo fornecimento de blocos ao Floripa Shopping, Shopping Via Catarina e a dois outros shoppings (em Balneário Camboriú e Curitiba - esta última tem uma filial da Blocaus).

"Fizemos todos os testes possíveis, em 3 cidades diferentes, obtivemos o selo de qualidade e 10 prêmios ambientais", afirma Bernadete, que atualmente cursa uma segunda graduação, em Engenharia Civil, e faz pós-graduação em Arquitetura Sustentável e Bioclimática, ambas na Unisul.

Ela promoveu o Seminário do Projeto Bloco Verde, em 2009, para apresentar a evolução das pesquisas. "A gente quer repeti-lo uma vez por ano, para mostrar o que está sendo feito com o dinheiro do Pappe", anuncia. Só falta uma parcela, sendo que com as duas anteriores ela comprou maquinário para triturar conchas, inclusive um moinho. "Antes eu mesma moía tudo a mão," lembra.

Muito do trabalho ainda é manual: tirar o sal e a matéria orgânica incrustada nas conchas ficou a cargo de um dos 46 funcionários da Blocaus. A maioria deles se ocupa da produção diária de 15 mil blocos, mas para não perder o contato com a proposta ecológica da empresa, eles têm noções de educação ambiental toda sexta-feira. E não são os únicos: "Também falamos nas escolas sobre a importância da reciclagem. As crianças até fazem blocos ecológicos e plantam árvores aqui na empresa", ressalta a engenheira ambiental Mara Viviane dos Santos. Duas outras pesquisadoras participam dos estudos: Dra. Paola Egert Ortiz e Dra. Heloisa T.Silva, ambas professoras da Unisul.

"As empresas que não pensarem em reciclar alguma coisa, vão perder a concorrência para quem tem este diferencial", diz o diretor Aparecido Alves Lopes. "Nós acreditamos bastante nisso."

Com base na idéia de que quase tudo pode ser reaproveitado, restos de pranchas de surf, resultantes da lixação, vem servindo para fazer blocos leves, que favorecem a acústica dos ambientes nos quais são empregados. E a novidade mais promissora na Blocaus é um bloco drenante, especialmente útil para prevenir alagamentos por filtrar o lixo e deixar passar a água acumulada em pavimentos. Ele está em fase de testes e tem tudo para ser utilizado em locais suscetíveis à formação de poças ou sofrer enchentes.

Colocar no mercado um produto inovador é um desafio para pequenas empresas. “Elas têm dificuldades por não terem setores de P&D, necessários para surgirem inovações. O Pappe vem para consolidar isso”, conclui Deborah Bernett, coordenadora de projetos da Fapesc. De um total de 35, 29 deles são geridos pela Fundação. As pesquisas transcorrem em cidades tão diversas quanto Blumenau e Agrolândia, e devem terminar em 2011.

Fonte: Sebrae/SC – 26/01/201
http://www.protec.org.br/casos_sucesso_detalhe.php?id=175

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