segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Editorial O Globo: Inovação é arma na disputa com chineses

Editorial O Globo: Inovação é arma na disputa com chineses 21 de Fevereiro de 2011

Desde 2009 a China assumiu a posição de maior parceiro comercial do Brasil em valores transacionados (o segundo lugar é ocupado pelos Estados Unidos, posto já ameaçado pelo terceiro, a Argentina). As exportações deram um salto, mas as importações cresceram relativamente até mais, de modo que o saldo comercial em favor do Brasil acabou permanecendo inalterado, no patamar de US$5 bilhões.

O Brasil exporta para a China matérias-primas e produtos básicos, tais como minério de ferro, soja em grão e petróleo cru. E vem importando bens intermediários e produtos acabados, entre os quais se destacam os relacionados a incrementos de produção e melhorias na infraestrutura (máquinas e equipamentos, navios, trens de passageiros etc.). Embora o consumidor brasileiro já observe nas prateleiras das lojas muitos produtos made in China (ficando até com a sensação que estão dominando o mercado), esses bens ainda representam aproximadamente 10% do total das importações feitas daquele país.

A economia chinesa cresceu incrivelmente nas três últimas décadas, a ponto de ultrapassar o Japão, em 2010, como a segunda maior do mundo. Com uma população que supera a de todos os países das Américas e da Europa juntos, a China viu seu modesto mercado interno minguar ainda mais no período da barbárie maoísta.

A partir de Deng Xiaoping, o pragmatismo passou a ser a marca da política econômica chinesa. O sucesso de Hong Kong, então colônia britânica, extrapolou para áreas vizinhas em território chinês, que se tornaram zonas econômicas especiais, modelo depois estendido a todo o litoral. As exportações alavancaram a economia chinesa, que, graças a uma capacidade de formação de poupança doméstica sem paralelo na história, começou a investir velozmente em infraestrutura.

O resultado é conhecido: a China assumiu o papel de locomotiva da economia mundial. A demanda chinesa é hoje fator preponderante na determinação dos preços da imensa maioria dos produtos transacionados no planeta.

A China se transformou em uma espécie de fábrica do mundo. É um dragão econômico difícil de ser batido, pois produz em grande escala e a custos reduzidos. Não é possível competir com os chineses de maneira ingênua, pois o sistema político do país permite que as autoridades restrinjam o funcionamento dos seus mercados domésticos quando isso já não lhes interessa. As regras internacionais e a legislação brasileira admitem a adoção de medidas de defesa comercial nos casos em que a competição desleal é mascarada por artifícios.

No entanto, diante dessa nova realidade não se pode apenas "jogar na retranca". Com inovação, conjugada a um esforço de aumento de produtividade, as empresas brasileiras terão condições de conviver com a agressividade chinesa. No mínimo, o Brasil precisa também tentar ampliar a sua pauta de exportações para a China, saindo de uma postura de acomodação. Reclamar só da concorrência chinesa de nada adiantará.


(Fonte: O Globo - 20/02/2011)
http://www.protec.org.br/noticias_detalhe.php?id=17321

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