segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Na roda dos biocombustíveis

Na roda dos biocombustíveis24 de Janeiro de 2011

No Brasil, onde hoje mais de 90% dos carros produzidos são do modelo flex fuel (que permite ao motorista rodar com mais de um combustível), a crescente expansão dessa frota nacional e também das exportações levará ao aumento da produção de etanol em 36,5 milhões de litros nos próximos dez anos. A produção total em 2019 deve chegar a 64 milhões de litros - quase duas vezes e meia o que é produzido hoje, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2019, divulgado em maio pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Outro combustível que tem recebido grandes investimentos, inclusive da Petrobras, é o biodiesel, cuja produção deve atingir 2,4 bilhões de litros este ano, o que representa um aumento de 50% em relação a 2009, de acordo com o Ministério da Agricultura. O crescimento se deve, em grande parte, à obrigatoriedade de se agregar biodiesel no diesel comum a partir do início deste ano.

Expansão mundial

De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, o cenário atual da produção de biocombustíveis aponta os Estados Unidos, Brasil, Alemanha, França e China como os maiores produtores mundiais. Juntos, Brasil e Estados Unidos respondem por mais de 50% da produção de biocombustíveis - basicamente, etanol e biodiesel.

Hoje, a demanda externa de etanol ainda é pequena e, em termos de exportação, representa apenas 15% da nossa produção. Porém, a tendência é de crescimento no uso de biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa, principalmente devido às metas de redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE).

Na União Europeia, por exemplo, a partir de 2020 os países terão que ter 10% de renováveis na sua matriz de transporte. Porém, para que isso aconteça, é preciso que as tarifas de importação para o etanol brasileiro sejam retiradas em locais como os Estados Unidos, União Europeia e Japão, os principais mercado desse energético que começou a ser usado pioneiramente no Brasil há 40 anos.

Inovação tecnológica

A indústria vem injetando recursos em novas tecnologias na área de biocombustíveis. As biorrefinarias estão sendo desenvolvidas em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Os benefícios econômicos e ambientais dessas unidades de refino são inúmeros, como a substituição do óleo diesel por biomassa, que pode gerar uma economia de milhões de dólares ao ano, além de diminuir a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera.

As tecnologias já desenvolvidas permitem a obtenção de subprodutos como a nanocelulose, com a qual é possível fabricar não apenas fibra para papel, mas também fibra têxtil, polímeros, filmes e géis empregados como aditivos em alimentos. Até mesmo materiais antes considerados resíduos, como galhos, copas e raízes de árvores são reaproveitados, resultando em combustíveis como o etanol e a lignina, que substituem o carvão nos fornos de cal das indústrias de celulose e papel.

De acordo com estudos realizados pelo grupo sueco Innventia, líder mundial em pesquisa e desenvolvimento de celulose, papel, embalagens e biorrefino, o custo total para a implantação de uma usina de biorrefinaria com capacidade para 50 mil toneladas de lignina por ano pode chegar a US$ 18 milhões.

Outra frente de desenvolvimento tecnológico é a produção do etanol celulósico, feito a partir do bagaço de cana. A utilização do bagaço irá aumentar significativamente a produção e ainda reduzirá os custos. Além disso, já está sendo pesquisado o uso de etanol na aviação, o que seria muito benéfico para o meio ambiente, já que os aviões são grandes poluidores, por utilizarem diesel como combustível.

Etanol: pioneirismo brasileiro

A partir da crise do petróleo, nos anos 1970, o governo brasileiro criou o programa Pró-álcool. Com forte investimento do governo, na época, em tecnologia e subsídios para as usinas produtoras do combustível, a indústria automobilística e os consumidores foram na onda do novo produto, adaptando os motores dos veículos para receber o álcool combustível.

Em 1986, o carro a álcool ganhou o gosto dos brasileiros, que compraram em sua maioria veículos que rodavam com o novo combustível. No entanto, o consumo de álcool apresentou uma queda gradual, devido à escalada do preço internacional do açúcar, o que desestimulou a fabricação desse insumo. Com o produto escasso no mercado, o governo passou a importar etanol dos Estados Unidos, em 1991, ao mesmo tempo que ia retirando os subsídios à produção, o que promoveu a quase extinção do Pró-álcool.

Além desses problemas mercadológicos, a queda no uso desse biocombustível deveu-se também a problemas técnicos nos motores a álcool, incapazes de um bom desempenho nos períodos frios.

Porém, no início dos anos 2000, com a alta dos preços do petróleo e consequentemente dos combustíveis na bomba dos postos, o governo voltou a investir na produção de álcool para veículos. O resultado foi um grande sucesso do agora popularizado etanol, com mais de 90% dos carros saindo das fábricas preparados para receber o produto.

A grande vantagem dessa nova era do etanol é que os veículos recebem os dois tipos de combustíveis, álcool e gasolina, o que dá a garantia de longevidade ao programa, e a certeza de crescimento desse mercado.

Investimentos crescentes

O crescimento dos biocombustíveis deve-se muito aos investimentos das empresas. De 2006 a 2009, mais de cem usinas foram construídas, consumindo mais de US$ 20 bilhões. As empresas nacionais e estrangeiras estão de olho no crescente movimento do setor de biocombustíveis no Brasil. Somente a Petrobras planeja alocar em torno US$ 3,5 bilhões nos próximos quatro anos, na produção, infraestrutura e pesquisa de etanol e biodiesel.

Segundo Miguel Rosseto, presidente da Petrobras Biocombustível, a agenda destes produtos está em franco crescimento e o século 21 será o da transição energética, com o uso cada vez maior de fontes renováveis. Ele confirma que Estados Unidos, Brasil, Europa e China serão os grandes consumidores de energias renováveis nos próximos anos.

No fim de abril, a Petrobras aportou R$ 1,6 bilhão para obter o controle de 45,7% no capital da Açúcar Guarani, quarta maior processadora de cana no país e que é controlada pela francesa Tereos Internacional.

De olho no incremento da sua participação na produção de biocombustíveis, a Shell fez uma joint venture com a Cosan, gigante nacional produtora de etanol, na qual vai investir cerca de US$ 1,5 bilhão. A intenção da companhia petrolífera anglo-holandesa é fazer do Brasil sua plataforma de distribuição de biocombustíveis para o resto do mundo. No total, o acordo, estimado em US$ 12 bilhões, prevê a criação de duas subsidiárias.

A Shell investe também em tecnologia, com quatro centros de pesquisa exclusivos para biocombustíveis no mundo. Com a formação da joint venture com a Cosan, tudo leva a crer que haverá um projeto semelhante no Brasil. "Achamos que há um grande potencial para o etanol brasileiro de cana-de-açúcar. O mundo já percebeu que o Brasil criou, nos últimos anos, um mercado de biocombustíveis bastante competitivo", afirmou Mark Gainsborough, vice-presidente de Estratégia, Portfólio e Energia Alternativa, do Grupo Shell.


(Fonte: TN Petróleo - janeiro/fevereiro 2011)
http://www.protec.org.br/politicas_publicas_detalhe.php?id=17068&Na%20roda%20dos%20biocombustíveis

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